Andando
eu à procura de uma coisa, os limites da nossa freguesia, aquando da
sua criação, encontro outra. Este “achado”, para mim, foi tão
extraordinário, que não consegui resistir à tentação de o
partilhar.
Transcrevo,
a parte que nos diz respeito, do cap. Cemitérios do Concelho, do
livro História Temática da Covilhã (1800-1926) IV Desenvolvimento
e Urbanismo do Prof. Rui Delgado
(…)
“Cebola[S.
Jorge da Beira]
Teve
cemitério muito cedo, mas não seria do agrado da população. Com
efeito, o único e grave incidente ocorrido, devido ao apego
enraízado nos povos de enterrar os entes queridos na igreja, teve
exactamente lugar na povoação de Cebola. O grave mas caricato
episódio foi narrado ao Governo Civil, em 26.10.1849; o padre foi a
casa da finada para celebrar as cerimónias fúnebres. Disposto o
cortejo, ao passar junto da igreja gritava-se «para a igreja! para a
igreja»! O padre foi sossegar por momentos os que assim procediam e
ao tomar o seu lugar na presidência do acto, quando se preparava
para rezar algumas orações pela alma da finada, virando-se, já não
a encontrou, tendo sido informado de que algumas mulheres a haviam
conduzido à igreja e ali a enterraram. O padre, porém, não
encontrando nenhum apoio nos moradores de Cebola, recolheu-se a
casa...
Concluiu
o administrador que a maior parte da população está envolvida no
caso e, por isso, não é possível recolher informações ou
testemunhas. Contudo, requisitou-se uma força de cinquenta baionetas
para virem ocupar durante algum tempo o lugar de Cebola, que se torna
digno do mais severo castigo «que serviria de exemplo às mais
populações».
A
ocupação pela força militar provocara ocorrências criminosas no
dia 28 de Outubro, segundo o pároco da freguesia. Decorreu
inquérito, mas não foram identificados os culpados do enterramento
na igreja. O, autor, avisado, ter-se-ia posto em fuga. O castigo de 6
ou 7, diz o administrador, não poderá servir de exemplo e fazer
entrar nos seus deveres os moradores da população, que
demonstraram, à saciedade, falta de respeito às autoridades e às
leis. Os tempos, porém, não eram de feição a aplicar medidas de
mão pesada... Mas, também é certo, que a autoridade não perdeu a
sua força moral – os indivíduos foram descobertos, o mentor
fugido foi capturado, o julgamento ia ter lugar e a força de
ocupação retirou!
Só
em 06.12.1893 a Junta se queixa do novo cemitério. Sem coveiro e sem
estar construído em harmonia com os preceitos higiénicos e, pior de
tudo!, «não tem necessária capacidade». Em 05.03.1902, a Junta
pediu a ampliação do cemitério. A Câmara não respondeu,
adiando-se a questão. Tudo o resto viria após 1926...”
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